Meta: O novo sistema de verificação de fatos e suas implicações

15 de janeiro de 2025 7 minutos
mudanças meta

Em um movimento que promete redefinir o panorama das redes sociais, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou uma série de mudanças drásticas nas políticas de moderação de conteúdo das plataformas da empresa. Estas alterações, que afetarão o Facebook, Instagram e Threads, representam uma guinada significativa na abordagem da empresa em relação à liberdade de expressão e ao controle de informações online. O anúncio,  como era de se esperar, pegou muitos de surpresa e tem gerado intensos debates sobre o futuro da comunicação digital e o papel das plataformas de mídia social na formação do discurso público.

Esta mudança ocorre em um momento de crescente preocupação global sobre a disseminação de desinformação e discurso de ódio online, levantando questões cruciais sobre o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade no espaço digital. Acompanhe esse hacks e entenda tudo sobre as mudanças, as reações pelo mundo e os impactos que ela pode trazer para as marcas.

1. O Fim do Programa de Verificação de Fatos da Meta

Em uma decisão surpreendente, a Meta anunciou o encerramento de seu programa de verificação de fatos nos Estados Unidos após quase uma década de operação. Zuckerberg justificou a mudança alegando que os verificadores de fatos eram “muito tendenciosos politicamente” e que o sistema anterior havia resultado em “muitos erros e muita censura”. De acordo com ele, o objetivo é “voltar às origens e manter um ambiente de liberdade de expressão”

Críticos do programa existente justificavam que ele era ineficaz e frequentemente resultava na supressão de vozes legítimas. No entanto, defensores do fact-checking alertam que essa mudança pode levar a um aumento significativo na disseminação de desinformação nas plataformas da Meta. 

2. O Novo Sistema de “Notas da Comunidade”

Para substituir o programa de verificação, a Meta implementará um sistema de “Notas da Comunidade”, semelhante ao utilizado pelo X (antigo Twitter), onde os próprios usuários poderão adicionar contexto e informações a postagens potencialmente enganosas e outros avaliarão a utilidade dessas notas com base em critérios como relevância das fontes e clareza das informações.

A empresa argumenta que isso promoverá um ambiente mais democrático e participativo na moderação de conteúdo. No entanto, críticos contrariam essa abordagem, já que ela pode não ser suficiente para combater a desinformação de forma eficaz, especialmente considerando a velocidade com que as fake news se propagam nas redes sociais – 70% mais rápido, segundo estudo da MIT. Este dado levanta questões sobre a eficácia na contenção da desinformação. 

No X, menos de 9% das notas propostas terminam com um acordo entre usuários. A implementação desse modelo ocorre em um momento em que a confiança do público na capacidade de distinguir notícias verdadeiras de falsas está em declínio. 

3. Mudanças nas Políticas de Moderação de Conteúdo

Além do fim do fact-checking, a Meta anunciou uma flexibilização significativa em suas políticas de moderação de conteúdo. Isso inclui a remoção de restrições sobre tópicos como imigração e identidade de gênero.

A decisão ocorre justamente em um momento em que os crimes de ódio online estão em ascensão. De acordo com dados do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), em 5 anos foram registradas um total de 293,2 mil denúncias de crimes de ódio motivados por preconceito ou intolerância na internet.

Além disso, durante a campanha eleitoral no Brasil em 2022, no intervalo de cinco meses, foram removidos mais de 2 milhões de conteúdos no Facebook e Instagram por violações às políticas da empresa de violência e incitação. Segundo a própria Meta, a empresa exerceu um “trabalho contínuo para proteger o processo democrático no Brasil” na ocasião.

4. Estratégias por trás – Efeito Trump

A decisão da Meta parece estar fortemente influenciada pela eleição de Donald Trump. Zuckerberg mencionou que as “eleições recentes parecem um ponto de virada cultural para priorizar novamente a liberdade de expressão”. Esta mudança de postura ocorre em um contexto de intenso debate sobre o papel das redes sociais na formação da opinião pública e nos processos democráticos.

A aproximação entre a Meta e Trump é evidente em várias frentes. A Meta nomeou Joel Kaplan, ex-integrante do governo de George W. Bush, como vice-presidente de assuntos globais, e Dana White, apoiador de Trump, como integrante de seu conselho administrativo. Ademais houve a doação de $1 milhão da Meta para o fundo de inauguração de Trump.

Trump, ao comentar sobre as mudanças, sugeriu que elas eram “provavelmente” uma resposta às suas críticas anteriores à plataforma. Esta declaração ressalta a complexa relação entre as grandes empresas de tecnologia e o poder político, levantando questões sobre a sua influência nos processos democráticos. Uma pesquisa da Gallup de 2024 revelou que 62% dos americanos acreditavam que as grandes empresas de tecnologia têm muito poder e influência sobre a opinião pública.

5. Implicações Globais e as críticas a América Latina

As mudanças anunciadas por Zuckerberg, inicialmente focadas nos EUA, têm gerado preocupações globais e reações de diferentes setores. 

No Brasil, o Ministério Público Federal solicitou esclarecimentos sobre como essas mudanças afetarão o país. Há preocupações sobre o impacto na democracia e no combate à desinformação. Além disso, a declaração de Zuckerberg sobre “tribunais secretos” na América Latina gerou reações negativas, com autoridades brasileiras interpretando isso como uma referência ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Na União Europeia, as mudanças enfrentam questionamentos sobre sua compatibilidade com o Digital Services Act, apontando possíveis conflitos com regulamentações locais de proteção de dados e conteúdo online. 

Especialistas alertam para riscos de aumento no discurso de ódio e na propagação de fake news. Por outro lado, defensores da liberdade de expressão veem as alterações como um avanço para preservar a troca de ideias online, criticando as políticas anteriores como excessivamente restritivas e enviesadas politicamente.

6. Impacto para marcas e negócios

As mudanças anunciadas pela Meta geraram preocupações significativas para as marcas, já que isso implica em um risco maior delas serem associadas a conteúdos polêmicos ou desinformativos, o que pode afetar o Brand Safety, especialmente em um ambiente onde a confiança é crucial. Além disso, com menos garantias sobre onde seus anúncios serão exibidos, os anunciantes podem se sentir menos confiantes em investir nas plataformas da Meta. Isso pode levar a uma reavaliação das estratégias de marketing digital. 

Apesar disso, há algumas oportunidades emergentes. A nova abordagem pode permitir que negócios se posicionem como aliadas na educação digital, incentivando a checagem de informações e promovendo o consumo consciente de conteúdo. Com regras mais claras e menos restritivas, as marcas podem explorar temas complexos e se envolver em debates sociais importantes, gerando maior conexão com o público. Marcas que reforçarem sua autenticidade e transparência poderão construir uma confiança mais sólida com os consumidores em um ambiente digital mais aberto.

Conclusão

As modificações anunciadas pela Meta levantam questões cruciais sobre o equilíbrio entre liberdade de expressão e combate à desinformação.

No Brasil, ainda não há previsão para essas mudanças serem implementadas. A Meta afirmou em ofício endereçado à Advocacia-Geral da União, na segunda-feira (13), que as alterações da checagem de fatos da plataforma serão testadas primeiro nos Estados Unidos, antes de qualquer expansão para outros países. Portanto, os próximos meses serão fundamentais para determinar a viabilidade dessas alterações no cenário global e como elas impactarão o comportamento das marcas e usuários.

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