O QUE É ECONOMIA PRATEADA
PERFIL DO CONSUMIDOR 50+
A LACUNA DO MERCADO
MANUAL ESTRATÉGICO
MAPA DE OPORTUNIDADES
BÔNUS
Imagine um mercado consumidor que movimenta R$ 2 trilhões por ano no Brasil, formado por um público com poder de compra consolidado e uma lealdade a ser conquistada. E que ainda assim, a grande maioria das marcas no País, por desconhecimento ou inércia estratégica, simplesmente não olha com a devida atenção. Esse mercado não é uma projeção futurista: ele já existe.
Estamos falando dos consumidores 50+: uma parcela da população que cresce em um ritmo acelerado enquanto detém a maior fatia do poder de compra do país. É essa união de relevância demográfica e potência de consumo que forma a chamada Economia Prateada: um movimento que já representa a terceira maior atividade econômica do mundo. No Brasil, as projeções indicam que seu valor deve dobrar até 2044, alcançando R$ 3,8 trilhões e representando mais de um terço de todo o consumo nacional.
No entanto, as marcas brasileiras vivem um paradoxo perigoso. Apesar de estarem diante de um mercado trilionário, a indústria ainda não o enxerga como deveria. A maioria dos brasileiros com mais de 55 anos não se sente representada pelas marcas e pela publicidade.
O objetivo deste Hacks é servir como um guia para este cenário. Nos próximos capítulos, vamos analisar os pilares que deram origem a esta potência de mercado, detalhar o perfil deste novo consumidor, mapear as principais oportunidades e apresentar um manual prático com as melhores estratégias para que a sua marca se conecte de forma eficaz com este público. Ignorar este movimento deixou de ser uma opção.
1. A economia prateada
Para decifrar o consumidor 50+ e as oportunidades que ele representa, o primeiro passo é compreender a verdadeira dimensão da Economia Prateada.
A Economia Prateada, também conhecida como “economia da longevidade”, é o termo que define o vasto ecossistema de produtos, serviços e experiências em torno da população 50+. Ela representa toda a atividade econômica impulsionada não apenas pelas necessidades, mas pela participação ativa deste público como consumidores, profissionais e empreendedores. Na prática, é uma força transformadora que redefine padrões de consumo e trabalho, cujos impactos se estendem por toda a sociedade, influenciando a forma como as diferentes gerações se relacionam e consomem.
O termo surgiu a partir do reconhecimento de que o envelhecimento populacional deixou de ser apenas um dado demográfico para se tornar um fenômeno econômico de grande escala. O conceito de “Silver Economy” nasceu no Japão na década de 1970. Não por acaso, o país foi uma das primeiras nações a vivenciar uma profunda transformação em sua estrutura populacional, com o rápido envelhecimento de seus habitantes. A escolha da palavra “prata” foi estratégica e carrega um duplo sentido: é uma referência visual aos cabelos grisalhos, mas também, e principalmente, ao imenso valor econômico que este grupo representa, análogo ao metal precioso prata. O que começou como uma observação demográfica local, evoluiu para se tornar, hoje, um conceito fundamental para entender a economia.
1.2. Os 3 pilares da transformação
A ascensão da Economia Prateada é sustentada por três transformações estruturais que estão ocorrendo em escala global.
1.2.1 Pilar demográfico
Por séculos, a estrutura da população lembrava uma pirâmide clássica: uma base muito larga de crianças e jovens, e um topo estreito de pessoas mais velhas. Hoje, essa estrutura está se invertendo. Com a queda da taxa de natalidade e o aumento da longevidade, a base está encolhendo enquanto o topo se alarga. Esse fenômeno é conhecido como a “inversão da pirâmide etária”. A população com mais de 50 anos já chega a quase 2 bilhões de pessoas – ¼ da população – e cresce a um ritmo de 3% ao ano. Segundo a ONU, a participação do grupo 50+ na população era de 9,1% em 1950 e tem projeção de chegar a 43,2% em 2050. No Brasil, em 2024, 27% da população já tinha mais de 50 anos, e a marca deve chegar a 40% até 2044. Esse ritmo posiciona o país, segundo a OMS, entre as cinco populações mais “envelhecidas” do mundo até 2030, ficando atrás apenas de Coreia do Sul, Hong Kong, Taiwan e Cingapura.
1.2.2 Pilar da saúde
Sustentando o avanço demográfico está o segundo pilar: a revolução da saúde. A grande transformação aqui é a mudança de uma mentalidade antes focada na medicina curativa – ou seja, tratar doenças quando elas aparecem – para uma cultura proativa de prevenção e busca por bem-estar. O objetivo não é mais apenas “viver mais”, mas fundamentalmente “viver melhor”. Essa nova cultura se manifesta em dados concretos de consumo e comportamento: 44,3% dos consumidores brasileiros na faixa dos 60 anos buscam ativamente por alimentos que tragam benefícios à saúde e mais de 9 milhões praticam atividades físicas regularmente.
1.2.3 Pilar sociocultural
A percepção sobre o que significa envelhecer foi radicalmente transformada e essa mudança é impulsionada pela geração que hoje forma o centro da Economia Prateada. Os Baby Boomers e a Geração X são conhecidos por terem questionado e redefinido normas sociais ao longo de suas vidas. Agora, aplicam essa mesma mentalidade questionadora ao próprio conceito de envelhecimento. O resultado é uma geração que rejeita o estereótipo do “aposentado” e busca ativamente por novos projetos e formas de se manter produtiva e relevante.
Em pouco mais de uma década, o País viu um aumento de mais de 110% no número de trabalhadores com mais de 50 anos, passando de 4 milhões para 9 milhões, segundo o Ministério do Trabalho. Além disso, são uma força empreendedora crescente: o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) aponta que mais de 23% dos novos empreendedores têm 50 anos ou mais.
2. Perfil do consumidor 50+: desconstruindo estereótipos
O consumidor 50+ não é um grupo homogêneo e vai muito além dos estereótipos. Este capítulo analisa seu perfil, poder de compra, comportamento e diversidade.
2.1. O poder de compra
Um dos maiores e mais persistentes equívocos do mercado é a imagem do consumidor 50+ como financeiramente dependente. A realidade é exatamente o oposto: eles não apenas detêm uma parcela massiva da economia, como frequentemente sustentam a estrutura financeira de suas famílias.
O ponto de partida é sua relevância macroeconômica. Este grupo concentra 42% de toda a renda nacional e, segundo relatório da Kantar, os lares chefiados por eles já respondem por 38% dos gastos com bens de consumo no Brasil. Globalmente, o cenário se repete, com o público 50+ sendo consistentemente apontado como aquele com o maior patrimônio líquido coletivo.
Dados mostram que sete em cada dez pessoas com mais de 50 anos se mantêm com seus próprios rendimentos e 86% possuem fontes de renda ativas, o que quebra definitivamente o estereótipo da dependência.
Isso se transborda para o núcleo familiar: 63% das pessoas na faixa dos 60 anos são as principais provedoras de seus lares e nove em cada dez auxiliam parentes financeiramente. Eles consolidam, assim, seu papel como base de segurança para múltiplas gerações.
2.2. O comportamento de consumo
Um dos mitos mais caros para as marcas é o de que o consumidor prateado é conservador, previsível e fiel às mesmas coisas sempre. A realidade, no entanto, revela um perfil de consumo muito mais sofisticado, crítico e aberto a novidades do que o mercado imagina.
Primeiro, eles são racionais e exigentes. A experiência de vida se reflete na própria tomada de decisão, que é menos guiada pelo sistema límbico (emoção e recompensa imediata) e mais pelo córtex pré-frontal (análise e planejamento). Com um ceticismo forjado por décadas de exposição à publicidade, eles pesquisam, comparam e valorizam a validação de especialistas. Para 68% deles, os fatores mais importantes na decisão de compra são a qualidade, o atendimento e a experiência, com o preço sendo um fator secundário, mostrando que o valor percebido vai muito além da etiqueta.
Essa racionalidade não anula as emoções, mas redefine a forma como elas entram em cena. O consumidor 50+ sente, mas só se envolve quando percebe que há lógica. A emoção passa a ser o resultado de um julgamento, e não o ponto de partida. É um consumo guiado por significado, em que o prazer vem da sensação de ter feito uma escolha correta, não de um impulso passageiro. Por isso, o envolvimento afetivo acontece quando há confiança, autenticidade e propósito, e não apenas conveniência.
Essa postura mais exigente se reflete diretamente na relação com as marcas. A ideia de um consumidor fiel por toda a vida, por exemplo, não se sustenta mais. Longe de estarem presos ao passado, dados mostram que 37% dos Baby Boomers trocaram de marca nos últimos três meses. Esse comportamento é ainda mais forte na Geração X, onde, segundo a Nielsen, 55% se consideram “exploradores de marcas”, dispostos a experimentar e pagar mais por inovação. Pesquisa da Pipe Social com a Hype60+ mostrou que 52% das pessoas 60+ não são fiéis a nenhuma marca, e entre os 75+, 74% dizem não ter marca favorita.
Além de tudo, o consumo desse grupo é movido por uma busca por propósito, tornando-se menos sobre o “ter” e mais sobre o “viver”. A prioridade é clara: 66% afirmam que “aproveitar a vida” é o mais importante, enquanto 41% gastam mais com produtos de desejo do que de necessidade básica.
Por fim, o impacto desse perfil vai além do consumo individual. Sua experiência os transforma em influenciadores diretos das decisões de compra de filhos e netos. No Brasil, participam de 45% dessas decisões (Instituto Locomotiva, 2025).
O protagonismo do público 50+, portanto, se estende pelo núcleo familiar, ampliando o alcance de seu poder de consumo e tornando cada decisão ainda mais estratégica para as marcas.
2.3. A vida digital
Um dos estereótipos mais comuns sobre o público 50+, principalmente 60+, é de serem desconectados do mundo digital. Os dados, no entanto, mostram o contrário. 85% do público na faixa dos 60 anos acessa a internet diariamente, 76% possui smartphone e 92% utiliza o WhatsApp todos os dias (SeniorLab). Além disso, as pessoas acima de 50 anos já representam 35% do total de usuários de redes sociais no Brasil. Segundo a GWI, empresa de pesquisa de consumo, o uso cresceu 28% no último ano – o maior aumento entre todas as idades.
A conexão constante transformou o smartphone em uma ferramenta de consumo. Ele é usado ativamente para pesquisar produtos. Em 2021, por exemplo, a faixa 50+ respondeu por 33,9% de todos os pedidos no varejo online no Brasil, superando pela primeira vez o grupo de 35 a 49 anos (NielsenIQ|Ebit). Além do volume, eles agregam valor: o gasto médio por compra dos Baby Boomers é o maior entre todas as gerações.
Fica claro que, para este consumidor, o ambiente digital deixou de ser um anexo e se tornou uma parte central de sua vida para se informar, se entreter e para consumir.
2.4. A diversidade do público
O último mito a ser quebrado é o de que o público prateado é um bloco homogêneo. A realidade é que esta fase da vida revela um mosaico de diferentes estilos e mentalidades, exigindo uma segmentação muito mais inteligente do que apenas por idade. Trata-se de um grupo diverso, com interesses que vão de aventuras radicais a programas culturais, de viagens longas a momentos em casa com a família. Ignorar essa pluralidade é perder a chance de criar mensagens relevantes segmentadas, estimulando as relações genuínas.
Uma ferramenta útil para entender essa complexidade são os 6 perfis psicográficos identificados pela Data8, hub de pesquisa e inovação em longevidade, que segmentam o público por comportamento:
- Sábios: Indivíduos que valorizam profundamente o conhecimento e encontram satisfação em compartilhar suas experiências e aprendizados.
- Agregadores: Representam o coração da família, sempre buscando reunir seus entes queridos.
- Cuidadores: Estão sempre presentes, atuando como pilares de suporte e estando sempre à disposição para ajudar.
- Autossuficientes: Valorizam sua independência, mantendo controle total sobre suas decisões.
- Exploradores: Curiosos por natureza, estão sempre em busca de novas experiências e oportunidades de aprendizado.
- Em pausa: Optam por dedicar um tempo para refletir sobre a vida, evitando compromissos adicionais.
Já um estudo da WGSN – autoridade global em tendências – apresentou os três principais “mindsets“ identificados no público 50+:
- Eternos aprendizes: Este grupo investe pesadamente em autodesenvolvimento. Veem a maturidade como uma chance de aprender novas habilidades, fazer cursos e viajar para expandir seus horizontes. O consumo é direcionado para a educação e experiências enriquecedoras.
- Guardiões do legado: Com foco na família e no futuro, este perfil está preocupado em passar conhecimento, valores e estabilidade financeira para as próximas gerações. Suas decisões de consumo são mais cautelosas, priorizando investimentos de longo prazo e marcas de confiança.
- Mestres do bem-estar: Para este grupo, a prioridade absoluta é a saúde física e mental. Seu consumo é quase inteiramente direcionado para bem-estar, autocuidado, alimentação saudável, atividades físicas e serviços que promovam uma vida equilibrada.
Em resumo, o raio-x do consumidor 50+ revela um perfil complexo: financeiramente poderoso, racional em suas escolhas, protagonista no ambiente digital e extremamente diverso. É a desconexão entre essa realidade e a visão do mercado que exploraremos a seguir.
3. A lacuna de mercado: por que as marcas falham com o consumidor 50+
Após estabelecermos o perfil de um consumidor prateado ativo, com alto poder de compra e digitalmente conectado, entramos agora no grande paradoxo. Apesar de toda essa potência, existe uma profunda lacuna entre o que as marcas oferecem e o que este público demanda. Vamos analisar onde as empresas estão errando e por que isso acontece.
3.1. A lacuna de produtos e serviços
A principal queixa do consumidor 50+ é clara: faltam produtos e serviços pensados para eles. Uma pesquisa da Data8 mostrou que quatro em cada dez consumidores brasileiros com mais de 55 anos não encontram produtos e serviços voltados para demandas da sua idade. Vestuário, calçados e acessórios estão entre os itens com maior lacuna, de acordo com 56% dos entrevistados, seguidos de alimentos (40%), turismo (36%), cursos (31%), soluções de acessibilidade para o lar (28%) e produtos de higiene pessoal (27%).
A raiz do problema, no entanto, é mais profunda que a simples falta de oferta: é uma falha de design e empatia. As marcas falham ao não projetar produtos considerando a ergonomia e a usabilidade, ignorando as transformações naturais do envelhecimento. No setor de vestuário, por exemplo, essa falha resulta em peças que não unem funcionalidade e estilo. O resultado é a criticada “moda bege”: roupas sem identidade, com estética antiquada, que reforçam o estereótipo de que pessoas mais velhas não se interessam por moda.
O mesmo descaso se manifesta em frustrações diárias no varejo, como na dificuldade em ler rótulos com letras minúsculas ou em manusear embalagens difíceis de abrir.
São pequenos, mas constantes atritos que criam uma forte percepção de descaso e afastam esse consumidor.
3.2 A falha na comunicação
Se a falta de produtos é a primeira face da falha de mercado, a segunda é a comunicação. O problema central é a invisibilidade: uma pesquisa da Box1824 – agência de pesquisas de consumo – mostra que 54% dos brasileiros com mais de 55 anos não se sentem representados pelas marcas. Quando a representação acontece, ela geralmente cai em um de dois estereótipos redutores: ou a figura da “pessoa frágil” – muitas vezes retratada de forma passiva, mais quieta e isolada em atividades em casa ou focada exclusivamente nos netos – ou o seu extremo oposto, a idealização do consumidor “ageless”, que é retratado com o corpo, roupas e os hábitos de alguém muito mais jovem, como se o tempo não tivesse passado.
A raiz dessa comunicação equivocada está no próprio mercado. Um estudo do Data8 mostra que 70% dos profissionais em agências nunca receberam um briefing para este público. Esse dado reflete a estrutura interna do setor: apenas 6% dos funcionários em agências de publicidade têm mais de 50 anos. Em outras palavras, o discurso sobre longevidade está sendo construído quase sempre por quem ainda não a vive. E o impacto é concreto: segundo um levantamento da Pipe Social com a Hype60+, chamado de “Tsunami Prateado”, somente 5% das campanhas globais retratam esse perfil em papéis protagonistas — um índice desproporcional para um público que concentra mais de 40% do consumo mundial. Ao invisibilizar essa parcela da população, as marcas não apenas perdem um mercado trilionário, mas também enfraquecem seu próprio discurso de diversidade, inclusão e propósito.
O desafio, portanto, não é apenas representar, mas reconstruir o olhar. Não se trata de “rejuvenescer” a comunicação, e sim de amadurecê-la, tratar o envelhecer como parte do ciclo da vida, sem disfarces ou idealizações.
3.3. As dificuldades estratégicas para as marcas
Como vimos, o perfil do consumidor 50+ é racional, cético e exigente. Isso cria uma série de desafios estratégicos para os quais o marketing tradicional não está preparado.
O primeiro desafio vem da racionalidade. O fato de ser um consumidor que pesquisa e compara, quebra a lógica do marketing focado em urgência e apelo emocional para gerar compras por impulso.
O segundo é o do consumidor cético. Com décadas de exposição à publicidade, este público “já viu de tudo” e possui um filtro natural para promessas de marca. Isso torna as táticas de comunicação tradicionais, baseadas em apelo e repetição, largamente ineficazes, exigindo um esforço muito maior para estabelecer um mínimo de credibilidade.
O terceiro desafio é o do consumidor exigente. Como já estabelecemos, a experiência e o atendimento são as maiores prioridades deste público. A implicação estratégica disso é que a “régua de qualidade” para o serviço é radicalmente mais alta. Eles são menos tolerantes com falhas e, segundo especialistas, tendem a ficar mais ressentidos com erros da marca. Uma única experiência ruim é o suficiente para abandonar uma empresa para sempre.
Por fim, há o desafio da jornada de compra híbrida. Como já mencionamos, o público 50+ é uma força no e-commerce, sentindo-se confortável para comprar online. A complexidade — e o desafio para as marcas — surge porque, para compras de maior valor ou que exigem mais confiança (como eletrônicos, eletrodomésticos ou um primeiro contato com uma nova marca), uma parcela significativa deles adota o comportamento de “webrooming”: prática na qual realizam uma pesquisa online aprofundada, comparando preços e especificações, mas fazem questão de ir à loja física para a validação final, seja para tocar no produto ou para ter a segurança de um vendedor. Essa jornada, que quebra o funil de vendas digital tradicional, torna extremamente difícil para as marcas medirem o real impacto de suas estratégias online.
Em suma, a lacuna de mercado não é um simples descuido, mas o resultado de uma falha sistêmica, que se manifesta na prateleira, com a falta de produtos pensados com empatia; na propaganda, com uma comunicação que não gera conexão; e na estratégia, com técnicas de marketing ineficazes diante deste perfil de consumidor. Entender essas três frentes é o primeiro passo para transformá-las em oportunidade.
4. O manual estratégico para marcas
Ignorada por décadas ou tratada com estereótipos, a economia prateada é hoje a maior oportunidade de crescimento para empresas no Brasil. No entanto, como vimos, o consumidor 50+ é experiente, exigente e tem tolerância zero para superficialidade.
Entender esse potencial é a teoria. Este capítulo é a prática. Ele funciona como um manual estratégico para marcas que decidiram ir além do discurso e capturar essa oportunidade de forma genuína. Detalharemos aqui os pilares de execução essenciais, indo da mudança de mentalidade interna até a experiência final do cliente.
4.1 A mudança de mindset – da cultura interna à compreensão do mercado
Enquanto uma parcela crescente da economia é impulsionada por consumidores 50+, a maioria das empresas continua operando como se esse público não existisse ou o enxergando com viés. O primeiro passo para aproveitar essa oportunidade não é só criar um produto ou uma campanha voltada para esse perfil, mas sim iniciar uma profunda mudança de mentalidade.
4.1.1 Inclusão de profissionais 50+
O primeiro pilar para colocar essa nova mentalidade em prática é a inclusão. Trazer profissionais 50+ para a equipe é a forma mais poderosa de internalizar a vivência do próprio consumidor que se deseja alcançar. Questões, dores e anseios que seriam apenas um slide em uma pesquisa de mercado se tornam parte das conversas diárias, gerando insights autênticos que direcionam a criação de produtos e serviços muito mais certeiros.
Primeiros passos: Comece revisando os processos seletivos. Há vieses inconscientes que podem estar afastando talentos 50+?
4.1.2. Educando a cultura interna
Para consolidar a nova mentalidade, é preciso disseminá-la. Promover um “letramento em longevidade” por meio de workshops e treinamentos internos é fundamental. O objetivo é educar a própria equipe sobre as realidades, os desafios e as oportunidades de uma sociedade que vive mais. Ao fazer isso, a empresa combate os vieses inconscientes de dentro para fora.
Primeiros passos: Realize um webinar interno rápido (30-45 minutos) para toda a equipe, compartilhando os principais dados e mitos desconstruídos neste Hacks. Convide um especialista em longevidade para uma sessão de perguntas e respostas.
4.1.3. A escuta ativa: substituindo achismos por dados reais
A mudança de mentalidade exige que a empresa pare de presumir e comece a perguntar. Pesquisas quantitativas tradicionais, baseadas em formulários, frequentemente falham em capturar a complexidade e as motivações deste público. É preciso ir além e investir em pesquisa qualitativa profunda para entender o “porquê” por trás de cada comportamento.
Isso significa acompanhar a jornada de compra real do consumidor, observar na prática suas frustrações com embalagens ou com um site confuso e, assim, gerar uma empatia real na equipe que irá desenvolver as soluções/produtos. Por exemplo:
- Entrevistas em profundidade: Conversas longas e abertas são essenciais para descobrir histórias de vida, valores e as verdadeiras “dores” que um produto/ serviço pode resolver. O objetivo não é validar uma hipótese, mas descobrir insights inesperados.
- Pesquisa etnográfica: A observação do consumidor em seu ambiente natural é extremamente poderosa. Acompanhar o consumidor prateado, principalmente 65+ em uma ida ao supermercado, a uma agência bancária ou tentando configurar um novo aparelho eletrônico revela dificuldades e oportunidades que jamais surgiriam em uma sala de reunião. É aqui que se percebe a dificuldade real de ler um rótulo, abrir uma embalagem ou navegar em um site.
- Grupos focais: São valiosos para testar conceitos e, principalmente, para observar a linguagem que o próprio público usa para descrever suas necessidades e aspirações. Esse vocabulário autêntico deve ser a matéria-prima para a comunicação da marca.
Primeiros passos: Convide 3-5 clientes 50+ para uma conversa ou um café, se possível. Pergunte sobre suas rotinas, desafios com produtos similares aos seus e o que os frustra. Isso é uma pesquisa qualitativa valiosíssima e de baixo custo. Ouça mais do que fale.
4.1.4. O fim da generalização
Tratar o público 50+ como um bloco único é o maior erro estratégico de todos, como já explicamos. Uma executiva de 50 anos, no auge da carreira, tem necessidades, desejos e hábitos de consumo completamente distintos de um homem de 65 anos que acaba de se aposentar para viajar pelo mundo. A nova mentalidade exige uma segmentação mais inteligente, que cruza a idade com outros eixos muito mais relevantes:
- Eixo da fase de vida: A pessoa ainda está no mercado de trabalho? Vive a síndrome do “ninho vazio”? Está em uma aposentadoria ativa, cheia de projetos, ou mais contemplativa?
- Eixo do comportamento digital: É um usuário iniciante, que usa a tecnologia para funções básicas, ou é um “superconectado”, que compra online, usa redes sociais e participa de comunidades?
- Eixo da motivação principal: O que move seu consumo hoje? É a família? É o autocuidado, a saúde e o bem-estar? São as viagens e o lazer? É o desenvolvimento pessoal e o aprendizado contínuo?
Cruzando essas variáveis, a empresa pode usar estudos de mercado (como os da Data8 e WGSN) para criar personas realistas. A partir daí, é possível direcionar a inovação e a comunicação para um alvo claro, em vez de atirar no escuro.
Primeiros passos: Faça um exercício simples: em vez de pensar em “o consumidor prateado”, tente criar 3 perfis imaginários de clientes 50+ do seu negócio. Pense em suas vidas, motivações e como eles interagem com seu produto/serviço hoje. Isso já ajuda a quebrar a generalização.
4.2 Inovação e adaptações de produtos e serviços
Com a mentalidade ajustada e o aprendizado vindo da escuta ativa, o desafio passa a ser prático: transformar esse entendimento em valor tangível. A inovação relevante, neste contexto, não é sobre tecnologia de ponta, mas sobre funcionalidade, colaboração e um design que inclua e conecte.
4.2.1. A co-criação no desenvolvimento de produtos
A inovação mais eficaz nasce da colaboração. Em vez de seguir o modelo tradicional de desenvolvimento, isolado da visão do consumidor, a co-criação convida o cliente prateado para ser um parceiro estratégico no processo de criação. A lógica é abandonar as suposições e trabalhar diretamente com quem usará o produto final. O princípio é simples e poderoso: não crie para eles, crie com eles.
- Como aplicar na prática:
- Workshops de design e inovação: Reúna um grupo diverso de consumidores 50+ e sua equipe de produto em uma sala. O desafio? Redesenhar uma embalagem para ser mais fácil de abrir por quem tem artrite, ou criar a jornada ideal para a contratação de um seguro de viagem online. Ao manusear protótipos, desenhar fluxos e debater ideias, o time da empresa ganha meses de aprendizado em poucas horas.
- Testes de usabilidade interativos: Para produtos digitais, como um aplicativo ou um site de e-commerce, a co-criação se dá por meio de testes contínuos. Em vez de um único teste ao final, os usuários-parceiros são convidados a testar cada nova versão do projeto, desde os primeiros rascunhos até a versão beta. Esse ciclo de feedback constante permite corrigir a rota rapidamente e com baixo custo.
- Painéis consultivos de inovação: Para um compromisso de longo prazo, marcas podem criar um conselho formal de “clientes-parceiros”. Este grupo pode ser acionado periodicamente para validar novas ideias de produtos, analisar tendências e até mesmo avaliar campanhas de comunicação antes de irem ao ar.
- Os benefícios:
- Redução de riscos: Validar o produto durante sua criação evita o desperdício de dinheiro em um lançamento que não tem aderência com o mercado.
- Aceleração da inovação: As melhores ideias e soluções para problemas reais vêm diretamente de quem os vive, cortando caminho e superando uma possível visão limitada da equipe interna.
- Lealdade e marketing orgânico: Os consumidores que participam do processo se tornam os primeiros e mais autênticos embaixadores da marca. Eles desenvolvem um senso de orgulho e pertencimento em relação ao produto que ajudaram a criar.
Primeiros passos: Ao invés de um workshop completo, convide um pequeno grupo de clientes 50+ para uma “sessão de feedback” sobre um produto ou serviço existente. Peça para eles mostrarem onde sentem dificuldade.
4.2.2. O princípio do design inclusivo
A inovação mais inteligente é aquela que serve a mais pessoas. O design inclusivo (muitas vezes chamado de design universal) é a disciplina de criar produtos, serviços e ambientes que possam ser usados pelo maior número de pessoas possível, independentemente de sua idade, habilidade ou limitações.
A filosofia central deste princípio, e a mais importante para as marcas, é: atender à necessidade sem estigmatizar.
O erro clássico é criar um “produto para idosos” (como um celular com botões gigantes e design infantilizado), que carrega um estigma e faz o usuário se sentir velho ou incapaz. O resultado é a rejeição. O design inclusivo faz o oposto: ele incorpora a solução de forma elegante e invisível, criando um produto que é simplesmente melhor para todos.
Quando um design resolve uma dificuldade específica (como a dificuldade de segurar um objeto fino ou ler uma fonte pequena) de forma ergonômica e confortável, ele não é vendido como um produto “para quem tem dificuldade”; ele é vendido como um produto superior. O design que resolve o problema de um grupo específico, muitas vezes, acaba sendo o design preferido por todos os usuários.
- Onde aplicar o design inclusivo:
- Embalagens: A “briga” com um lacre de requeijão ou um saco plástico selado a vácuo é um ponto de frustração universal. Criar embalagens com abas maiores, picotes que funcionam de verdade ou tampas de rosca com melhor aderência não beneficia apenas o consumidor 50+, mas qualquer pessoa que esteja com a mão molhada ou ocupada.
- Rótulos e informações: Fontes pequenas e de baixo contraste são uma barreira. Garantir legibilidade com fontes claras, bom espaçamento e alto contraste entre o texto e o fundo torna a informação acessível para quem tem alguma dificuldade de visão, mas também facilita a leitura rápida para qualquer cliente.
- Produtos digitais (sites e apps): Botões pequenos, links escondidos e ícones que não são óbvios prejudicam a todos. Um design inclusivo garante botões de ação grandes e claros, ícones universais e a opção de ajustar o tamanho da fonte, tornando a experiência digital menos frustrante para qualquer usuário.
Primeiros passos: Identifique 3 pontos de contato do seu produto/serviço que podem ser ergonomicamente melhorados (ex: uma embalagem, um formulário no site, a altura de um expositor). Pense em como uma pequena mudança pode facilitar a vida de todos, não só do público 50+
4.3 Comunicação autêntica
A comunicação é a etapa mais visível da estratégia e, frequentemente, onde a maioria das empresas erra.
Uma campanha desrespeitosa, que recorre a clichês ou que soa infantilizada, tem o poder de comprometer toda a estratégia de negócio. O consumidor 50+ tem um radar apurado para identificar falta de autenticidade. É preciso criar uma conexão genuína, baseada em respeito, representatividade real e reconhecimento da diversidade desse público.
4.3.1 Onda falar – quais canais
O primeiro passo é entender onde falar. O pilar da estratégia deve ser híbrido:
- Digital (foco em autoridade): É no ambiente digital que a confiança será construída. Canais como YouTube, blogs e portais de notícias são onde a marca deve se posicionar como uma especialista, oferecendo o conteúdo de valor que este público já está procurando. A autoridade não é “comprada” com um anúncio de 30 segundos; ela é conquistada com artigos, guias e vídeos que educam e resolvem problemas reais.
- Mídias tradicionais (foco em alcance): A mídia tradicional (TV, rádio, revistas) pode ser usada como uma ferramenta de alcance e frequência (awareness), direcionando o consumidor para os canais digitais onde a conversa de fato acontece. É uma estratégia de “isca” para levar o consumidor ao “hub de conteúdo”, onde a confiança será firmada.
Primeiros passos: Avalie seus canais atuais. Sua marca está presente onde o público 50+ está (YouTube, Facebook, WhatsApp, portais de notícias relevantes para essa faixa etária)? Se não, comece com um teste de conteúdo em uma dessas plataformas.
4.3.2. O que falar – estratégias de conteúdo
O segundo passo é definir o que falar. Como vimos anteriormente, este consumidor pesquisa exaustivamente antes de comprar. Ele é mais cético e experiente, e a publicidade direta (o “compre agora”) tem menos efeito. A estratégia-chave não é tentar “quebrar” essa racionalidade, mas se tornar a principal aliada dessa pesquisa. A marca deve “armar o consumidor” com informação de qualidade, tornando-se a fonte mais confiável para sua tomada de decisão.
Isso se faz com marketing de conteúdo, que se baseia em educar para vender. Este público está ativamente online, buscando informação, tutoriais e soluções para problemas reais. O objetivo não é vender o produto imediatamente, mas sim criar um “hub de conteúdo” (um blog, uma seção no site) com guias completos, comparativos de produtos e tutoriais para construir autoridade e confiança.
A marca deve mapear as dúvidas e necessidades reais do seu público e respondê-las de forma honesta e aprofundada. Quando o consumidor 50+ decidir comprar, ele escolherá a marca que mais o ajudou.
- Os formatos mais eficazes:
- Vídeos no YouTube: O YouTube é uma das plataformas preferidas deste público. Vídeos com ritmo mais calmo, áudio claro, fontes grandes e explicações passo a passo (tutoriais) têm um desempenho excelente.
- Artigos de blog aprofundados: Conteúdo escrito que responde a perguntas complexas de forma completa. Este público lê e valoriza textos que não são superficiais.
- Webinars e aulas ao vivo: Eventos online com especialistas posicionam a marca como uma autoridade e criam um canal direto de interação.
Primeiros passos: Liste as 5 perguntas mais comuns que seus clientes 50+ fazem antes de comprar. Transforme cada pergunta em um tópico para um artigo de blog ou um pequeno vídeo no YouTube. O foco é responder, não vender.
4.3.3. O guia de linguagem
A primeira regra da comunicação autêntica é o respeito no vocabulário. A forma como a marca nomeia e se dirige a este público define o tom de todo o relacionamento. O consumidor prateado rejeita categoricamente termos condescendentes ou que o coloquem em uma “caixa” segregada.
- O QUE NÃO FAZER:
- Usar termos infantilizados e diminutivos: “Vovô”, “vovó”, “velhinho(a)”. Esses termos são o maior repelente de consumidores, pois infantilizam e reduzem o indivíduo a um único papel social.
- Usar eufemismos que segregam: “Terceira idade” e, principalmente, “melhor idade”. Esses termos soam falsos, como se a velhice fosse algo que precisasse ser disfarçado ou dourado.
- Usar rótulos generalizantes: “Sênior”, “maduro”. Embora às vezes usados no mundo corporativo, na comunicação de massa carregam um peso e um estigma de “velho” que o público de 50 ou 60 anos rejeita ativamente.
- Adotar um tom paternalista: Usar uma linguagem que sugere que a marca “sabe o que é melhor para você” ou que precisa “cuidar” do consumidor de forma passiva.
- O QUE FAZER:
- Usar a demografia direta: A forma mais segura, neutra e respeitosa de se referir ao público é pela idade: “público 50+” (ou 60+, 70+, etc.).
- Usar referências geracionais (se aplicável): Se a segmentação for específica, usar os nomes das gerações (Baby Boomers, Geração X) também funciona, pois é uma definição técnica, não um rótulo.
- Usar uma linguagem de “igual para igual”: Fale com o consumidor como o adulto experiente e multitarefa que ele é. A comunicação deve ser direta, honesta e objetiva.
- Focar em verbos de ação e autonomia: A linguagem deve refletir a realidade deste público, que está em plena atividade, fazendo planos e buscando novas experiências. Use termos como: “descobrir”, “conquistar”, “planejar”, “viver”, “aprender”, “viajar”, “investir”. O foco é no futuro, não apenas no passado.
4.3.4. O guia de representação visual
Se a linguagem é o que a marca fala, a imagem é o que ela mostra. Na publicidade, a representação visual do público 50+ é historicamente falha e limitada a dois extremos, ambos irreais e prejudiciais, como já mencionamos no subtópico 2.2 (estereótipo de fragilidade ou de super-sênior/ageless).
A representação autêntica está no meio-termo, na vida real. A chave é mostrar a pluralidade deste público.
- O QUE NÃO FAZER:
- Recorrer aos clichês: Evitar a todo custo a imagem da pessoa doente/dependente.
- Forçar uma “juventude eterna”: Evitar modelos irreais que parecem ter saído de uma capa de revista fitness, pois isso não gera identificação.
- Retratar isolamento etário: Fotos que só mostram grupos de pessoas 60+ isoladas, como se não interagissem com o resto da sociedade.
- Usar modelos muito mais jovens: Contratar modelos de 40 anos para representar o público de 60, apenas com uma maquiagem ou cabelo grisalho falso. O público percebe.
- O QUE FAZER:
- Usar imagens de pessoas reais e diversas: O público quer se ver na publicidade. Isso significa mostrar a pluralidade de corpos, etnias, estilos de cabelo (grisalhos, tingidos, curtos, longos) e estilos de vida.
- Mostrar o público em situações cotidianas e ativas: Em vez da cadeira de balanço, mostre pessoas 50+ trabalhando (em escritórios, em home office, empreendendo), socializando (em cafés, jantares), namorando, usando tecnologia (smartphones, notebooks), aprendendo, cuidando da casa, praticando hobbies (não radicais, mas reais, como cozinhar, fotografar, tocar um instrumento) ou simplesmente vivendo suas vidas com autonomia.
- Mostrar a interação intergeracional: Como visto anteriormente, mostrar pessoas 50+ interagindo naturalmente com outras gerações (colegas de trabalho mais jovens, filhos, netos) de forma ativa e horizontal, sem ser apenas o “avô provedor” ou o “sábio conselheiro”.
- Focar na atitude, não na idade: A imagem deve transmitir vitalidade, experiência, confiança e projetos de futuro, e não a idade cronológica da pessoa.
4.3.5. As estratégias de influência
Nos últimos anos, surgiu com enorme força um ecossistema de influenciadores 50+ – pesquisa da agência Silver Makers mostrou um crescimento de 200% entre 2020 e 2024 – que se tornaram um dos canais mais autênticos e eficazes para se conectar com este consumidor.
Enquanto a publicidade tradicional sofre com a desconfiança, esses influenciadores prosperam por um motivo simples: identificação e credibilidade. Eles não são modelos distantes; são pessoas reais, com trajetórias de vida e desafios semelhantes aos de seu público. A recomendação deles não soa como publicidade paga, mas sim como o conselho de um par em quem confiam.
Para as marcas, trabalhar com influenciadores 50+ é uma oportunidade de ouro para ter sua mensagem transmitida com uma voz autêntica e respeitada.
Primeiros passos: Pesquise 2-3 influenciadores 50+ relevantes para o seu setor no Instagram ou YouTube. Analise como eles se comunicam e se relacionam com sua audiência. Pense em como uma parceria genuína (não apenas um post patrocinado) poderia ser criada.
4.4 A experiência do cliente (CX)
Para este público, a experiência prática com a marca (seja na loja física, no site ou no pós-venda) é, muitas vezes, mais importante que o preço, como já vimos também. É na experiência que a confiança conquistada na comunicação é validada ou destruída. Empresas que investem em um CX acessível, humano e eficiente garantem a lealdade deste cliente.
4.4.1. No ponto de venda físico
O ambiente da loja deve ser convidativo e funcional, eliminando atritos invisíveis que dificultam a permanência e a compra.
- Iluminação e legibilidade: Garantir que a loja seja bem iluminada, sem reflexos excessivos, e que as etiquetas de preço e as placas de sinalização dos corredores tenham fontes grandes, legíveis e com alto contraste.
- Circulação e conforto: Os corredores devem ser largos o suficiente para permitir a passagem confortável, mesmo com carrinhos ou sacolas. Oferecer locais estratégicos para sentar e descansar por um momento pode ser o diferencial que prolonga a estadia desse cliente na loja.
- Acesso e ergonomia: Prateleiras muito altas ou muito baixas exigem esforço físico desnecessário. Posicionar os produtos de maior interesse para este público em uma altura de fácil alcance (entre a linha da cintura e a linha dos olhos) é uma prática inteligente de design de loja.
- Som ambiente: Muitos estabelecimentos, principalmente do varejo de moda e tecnologia, mantêm trilhas sonoras em alto volume e com frequência aguda, gerando desconforto auditivo. A curadoria sonora também faz parte da hospitalidade. Um ambiente com ruído controlado favorece decisões mais tranquilas e sensação de bem-estar.
Pensar o ponto de venda físico sob a lógica da economia prateada é repensar o espaço como plataforma de conforto, clareza e autonomia. Pequenos detalhes de ergonomia visual, tátil e sonora traduzem respeito — e esse respeito é o verdadeiro luxo para quem já viu de tudo.
4.4.2. No atendimento humano
Este é um dos pontos mais críticos. O consumidor prateado valoriza a interação humana e tem baixíssima tolerância para atendimentos apressados ou robotizados.
- Treinamento em empatia: A equipe de frente (vendedores, caixas, suporte) precisa ser treinada para um serviço sem pressa, que ouve atentamente, explica os detalhes do produto ou serviço com clareza e não usa jargões técnicos.
- Evitar o “digital forçado”: Muitas empresas tentam forçar o cliente 50+ para o autoatendimento (totens, apps) para “economizar tempo”. Isso pode gerar frustração. É essencial sempre oferecer a opção visível de um atendimento humano.
- Canais de fácil acesso: Disponibilizar canais de suporte que este público confia, como um número de telefone claro (que é atendido por um humano) e, cada vez mais, o WhatsApp para resoluções rápidas e diretas.
Primeiros passos: Peça à sua equipe de atendimento para realizar um “atendimento de teste” simulando um cliente 50+ com dúvidas básicas. Avalie a paciência, clareza e a oferta de ajuda humana.
4.4.3. Pós-venda proativo
Para este consumidor, a relação com a marca não termina na entrega do produto. É o que acontece depois da compra que define a lealdade. Enquanto a maioria das empresas adota um pós-venda reativo (espera o cliente reclamar), a estratégia mais poderosa para este público é a proatividade.
- Exemplos Práticos:
- “Onboarding” humanizado: Se o cliente compra um produto tecnológico (como uma Smart TV ou um novo notebook), a marca deve, proativamente, enviar um e-mail com um link direto para um vídeo-tutorial simples ou, melhor ainda, oferecer uma breve ligação de boas-vindas para perguntar: “O senhor(a) conseguiu instalar? Precisa de ajuda com alguma configuração inicial?”.
- Check-in pós-serviço: Após a contratação de um serviço (como um seguro de viagem ou um plano de saúde), a empresa deve enviar uma mensagem simples (ex: WhatsApp) confirmando que está tudo certo e disponibilizando o contato direto de um gerente de conta, “para o caso de qualquer imprevisto”.
- Antecipação de manutenção: Para produtos de uso contínuo, a marca pode monitorar o ciclo de vida e, proativamente, avisar sobre a necessidade de manutenção ou reposição, oferecendo um desconto para fidelizá-lo.
Esse contato proativo transforma o que seria um ponto de atrito (a dúvida, o problema) em um ponto de encantamento. Ele mostra que a marca não estava interessada apenas na venda, mas sim no sucesso do cliente com a solução, gerando uma confiança imensa.
4.4.4. Na experiência digital (UX)
Um site ou aplicativo confuso é uma venda perdida. A experiência digital deve seguir os mesmos princípios do design inclusivo.
- Alto contraste e fontes: Garantir que o texto tenha um alto contraste com o fundo e que as fontes tenham um tamanho legível, idealmente com a opção de aumentá-las.
- Botões e links claros: Os botões de ação (“Comprar”, “Avançar”, “Finalizar Pedido”) devem ser grandes, bem definidos e com textos óbvios. Os links não devem ser apenas sublinhados, mas também destacados por cor ou negrito.
- Jornada de compra simplificada: O processo de checkout deve ser o mais limpo possível, com o mínimo de cliques, poucos campos de formulário e sem pop-ups ou distrações que possam confundir o usuário no momento crucial do pagamento.
Primeiros passos: Acesse seu site ou aplicativo de e-commerce e tente fazer uma compra do início ao fim. Há muitos cliques? Os botões são visíveis? O contraste é bom? O formulário é longo? Identifique um ponto de fricção e priorize a correção.
5. O mapa de oportunidades
A transformação demográfica não cria um mercado único, mas sim um continente de oportunidades que se divide em duas grandes frentes: a economia da adaptação, focada em garantir qualidade de vida, autonomia e bem-estar; e a economia da expansão, impulsionada pelo desejo, pela auto-expressão e pela busca por novas experiências.
As marcas mais estratégicas são aquelas que entendem em qual dessas frentes (ou em ambas) elas podem atuar.
5.1 A economia da adaptação e qualidade de vida
Aqui residem as oportunidades focadas em redesenhar produtos, serviços e ambientes para uma população mais longeva. O foco é em autonomia, prevenção, conforto e resolução de necessidades práticas.
5.1.1. Saúde, prevenção e performance
O envelhecimento ativo mudou o paradigma da saúde. O foco sai do tratamento de doenças (curativo) e migra para a prevenção e manutenção da performance. A meta não é só “viver mais”, é “viver melhor”, como já mencionamos.
- Nutrição funcional e suplementação: A preocupação com a saúde se reflete no carrinho de compras. Há uma demanda crescente por alimentos funcionais (baixo sódio/açúcar, enriquecidos), conveniência (refeições prontas saudáveis) e, principalmente, pelo mercado de suplementação nutricional direcionada (para força muscular, cognição, saúde óssea e articular).
- Serviços de bem-estar: Serviços que garantem mobilidade e conforto, como podologia e massoterapia, ganham status de necessidade. A fisioterapia domiciliar cresce como alternativa. Algumas academias estão se reinventando com treinos de baixo impacto, foco em força e ambientes mais acolhedores e intergeracionais.
- A economia climatérica: A menopausa (e a perimenopausa, que se inicia aos 45+) torna-se um mercado vasto. Mulheres buscam ativamente soluções para sintomas e qualidade de vida, abrindo oportunidades para suplementos específicos, produtos de skincare para mudanças hormonais, aplicativos de bem-estar e serviços de saúde especializados.
- Saúde mental: O tabu sobre o tema diminuiu, abrindo campo para serviços, terapias e plataformas digitais focadas no bem-estar psicológico, gerenciamento de ansiedade e propósito.
5.1.2. Finanças, planejamento e legado
- Gestão de patrimônio e sucessão: Bancos precisam adaptar sua comunicação para focar em planejamento sucessório, gestão de patrimônio focada na longevidade e investimentos de baixo risco que garantam o usufruto.
- Seguros adaptados: A demanda é por produtos híbridos, como seguros de vida com benefícios em vida (resgatáveis ou para doenças graves) e seguros de saúde com forte foco em telemedicina e assistência domiciliar.
- Fintechs 50+ (Age Techs): Há uma enorme oportunidade para soluções digitais que combatam o “paternalismo financeiro” dos bancos tradicionais. O foco é em usabilidade radicalmente simples (UX/UI), ferramentas de segurança digital (prevenção a fraudes) e produtos de crédito pensados para as necessidades dessa fase.
5.1.3. O Ecossistema do lar: conforto e autonomia
O lar se torna a plataforma central de bem-estar, exigindo adaptação para o conforto e segurança.
- Reforma e design universal: A maior oportunidade está na adaptação de residências existentes. Empresas de reforma especializadas em design universal (que atende a todos, sem estigmatizar) para instalação de barras de apoio, construção de rampas, adaptação de banheiros e troca por pisos antiderrapantes.
- Age techs residenciais: Tecnologia focada em autonomia e segurança. Isso inclui desde automação residencial básica (iluminação por sensor) até soluções avançadas como dispensadores de remédio automáticos, wearables e sensores de monitoramento remoto (para detectar quedas ou alterações de saúde).
- Novos formatos de moradia (senior living): Uma revolução no conceito de moradia que quebra o estigma do “asilo”. O foco é em independência e comunidade, operando no modelo de “moradia como serviço”. As tendências incluem Cohousing Sênior (comunidades planejadas com casas privativas e áreas comuns) e condomínios com serviços integrados (saúde, lazer, alimentação).
5.1.4. Mobilidade e funcionalidade
Dois nichos emergem focados em garantir autonomia e funcionalidade no dia a dia, mantendo a dignidade.
- Transporte especializado: Para além dos aplicativos de transporte convencionais, surge a necessidade de um serviço focado em segurança, acessibilidade e acompanhamento humanizado. Empresas que oferecem transporte porta a porta, com motoristas treinados para auxiliar o embarque/desembarque e, se necessário, acompanhar o cliente em consultas médicas, exames, aeroportos ou atividades de lazer, atendem a uma demanda crucial por independência.
- Moda adaptável: Um nicho dentro da moda que foca na funcionalidade para pessoas com limitações de mobilidade (sejam elas permanentes, como artrite, ou temporárias, como pós-cirúrgico). O desafio é criar roupas que sejam fáceis de vestir e tirar (fechos magnéticos, zíperes laterais, velcros discretos), mas que, crucialmente, não abram mão do estilo, diferenciando-se da “roupa de paciente”.
5.2 A economia da expansão e desejo
Diferente da primeira frente, focada na necessidade e adaptação, esta é a economia movida pelo desejo. É o consumo focado na auto-expressão (moda, beleza), em novas experiências (turismo, lazer) e na busca por propósito (hobbies, aprendizado).
5.2.1. Moda, beleza e luxo
- Beleza “pró-idade” (pro-aging): O discurso “anti-idade”, focado em negar o envelhecimento, está falido. A oportunidade reside no “pró-idade”: celebrar a maturidade com produtos que atendam às necessidades reais, como linhas que valorizam e tratam cabelos grisalhos, skincare formulado para hidratação intensa e firmeza, e maquiagem que valoriza.
- Moda (estilo + conforto): Um dos setores com maior lacuna percebida. A oportunidade é resolver a maior lacuna do setor: o limbo entre o fast-fashion (que o ignora) e a “moda bege” (que o estigmatiza). O público 50+ não quer abrir mão do estilo, mas a prioridade é o conforto. A demanda é por tecidos de qualidade, modelagens inteligentes (que respeitem as mudanças do corpo sem serem antiquadas) e calçados que combinam design moderno com tecnologia de conforto. A “moda sem idade”, que foca no estilo pessoal em vez da faixa etária, é a chave.
- Luxo e alto padrão: A oportunidade é a mudança de mentalidade da “acumulação” para o “usufruto”.O principal alvo são carros premium, jóias, relógios, vinhos e gastronomia de alto nível. A comunicação de luxo para este público deve focar menos em “ostentação” e mais em “qualidade duradoura”, “legado” e “celebração”.
5.2.2. Lazer, cultura e entretenimento
- Turismo: O público 50+ busca conforto, segurança e roteiros com mais significado, fugindo do turismo de massa apressado. O “slow travel”, com foco em cultura, gastronomia e bem-estar, está em alta. Agências especializadas formatam pacotes com ritmo adaptado, acessibilidade garantida e, muitas vezes, foco na socialização (viagens em grupo). Hotéis e resorts que oferecem estrutura acessível e atividades pensadas para diferentes níveis de energia no mesmo espaço saem na frente.
- Entretenimento: A oportunidade aqui é associar a marca à experiência e ao conforto. Este público busca ativamente shows, teatro e exposições, mas valoriza a hospitalidade. Marcas que patrocinam esses eventos e oferecem benefícios reais (melhores assentos, áreas de descanso, acesso facilitado) criam uma conexão forte.
5.2.3. A economia do afeto
Com a “síndrome do ninho vazio” e a reconfiguração familiar, o foco do cuidado e do consumo é transferido para novas fontes de afeto.
- Mercado pet: O público 50+ é um dos principais motores do mercado pet. Eles transferem o cuidado (e o orçamento) dos filhos para os animais. Isso impulsiona o mercado de rações, planos de saúde pet, acessórios de luxo e serviços de hotelaria e creche para animais.
- Consumo intergeracional: Marcas (de brinquedos a eletrônicos e games) que criam produtos para serem usados entre gerações, facilitando a conexão entre avós, filhos e netos, ganham um diferencial estratégico.
5.2.4. Conhecimento, requalificação e hobbies
Impulsionado pela busca por novos projetos e relevância, o aprendizado se torna uma ferramenta de propósito.
- Lifelong learning (educação continuada): Plataformas de cursos livres focados em interesses pessoais (história da arte, idiomas, vinhos, culinária, jardinagem) e habilidades práticas (finanças pessoais, inclusão digital).
- Requalificação (segunda carreira): Programas focados em ajudar o 50+ a empreender ou a se reinserir no mercado de trabalho.
- Lazer e hobbies (DIY): O mercado de “faça-você-mesmo”, incluindo ferramentas e insumos para marcenaria, artesanato, pintura, música e fotografia.
Conclusão
A Economia Prateada não é apenas uma tendência demográfica, mas uma realidade econômica poderosa e em constante expansão. As marcas que compreenderem a complexidade e a diversidade do consumidor 50+, que investirem em uma mudança de mentalidade interna, que inovarem em produtos e serviços com design inclusivo e que se comunicarem de forma autêntica e respeitosa, estarão não apenas preenchendo uma lacuna de mercado, mas construindo um futuro de crescimento sustentável e relevante.
A pergunta que fica é: sua marca está preparada para enxergar, ouvir e dialogar com quem já construiu tanto, e ainda tem muito a consumir, viver e influenciar?
O desafio é grande, mas a recompensa – a lealdade de um público com alto poder de compra e influência – é ainda maior.
Bônus – Cases e campanhas voltadas para o público 50+
O mercado da chamada Economia Prateada vem inspirando marcas a repensarem suas narrativas, produtos e representações. De linhas de skincare a combos de fast food, empresas de diferentes segmentos estão reconhecendo o potencial — e a potência — do público 50+. Abaixo, alguns cases que mostram como a publicidade vem se abrindo à longevidade com autenticidade, propósito e criatividade.
L’Oréal Paris
Com a linha Age Perfect – Golden Age, a marca colocou o envelhecimento sob uma nova ótica: evolução, não declínio. Ao lado de embaixadoras como Helen Mirren, Jane Fonda e Viola Davis, a campanha trouxe mensagens como “Gold, not old” e “Our perfect age is now”, celebrando a beleza e o orgulho de cada fase da vida.
Dove
Pioneira na inclusão da maturidade em sua comunicação, a Dove expandiu o conceito de “Beleza Real” para mulheres 50+ e 60+, mostrando corpos e peles sem retoques ou idealizações. As campanhas reforçaram o autocuidado e a aceitação, reposicionando o envelhecer como parte essencial da beleza.
Nutren Senior (Nestlé Health Science)
A linha foi criada especialmente para adultos 50+, com foco em força, vitalidade e autonomia. A comunicação de Nutren Senior substitui o discurso de envelhecimento por longevidade ativa — “viver a sua idade do seu jeito” —, destacando nutrientes e estilo de vida saudável como aliados dessa fase.
P&G (Always)
Com Always Discreet, a marca adaptou sua expertise em cuidados femininos para atender mulheres 50+ com incontinência urinária leve. Campanhas como #WeeNeedToTalk e “Squeeze the Day” abordaram o tema sem tabu, defendendo a autonomia e normalizando conversas sobre o corpo feminino após a menopausa.
O Boticário
Na campanha “Seu auge é hoje”, a marca trouxe à tona temas como menopausa e climatério, reforçando que a maturidade é um novo auge, não um fim. Com presença em uma novela da Globo e influenciadoras como Ingrid Guimarães e Regina Volpato, a ação também marcou o lançamento do projeto Pacto Prateado e uma linha de skincare 50+.
Nestlé – “Eu me vejo Pró-Idade”
Em parceria com influenciadores 50+, como Ary Fontoura e Geraldo Rufino, a campanha reforçou a vitalidade e a representatividade da longevidade ativa. Além da presença digital, a marca criou um bot no WhatsApp para apoiar o público mais velho no uso de tecnologia, fazendo uma ponte entre gerações.
JD Williams
A campanha “We See You” destacou mulheres de meia-idade como protagonistas de estilo, atitude e autenticidade. Com base em pesquisas sobre a invisibilidade feminina no varejo, a marca britânica lançou uma coleção voltada para mulheres 40–60 anos, celebrando a confiança e o protagonismo dessa faixa etária.
Skol
Com “Velhovens”, a cervejaria quebrou estereótipos e colocou pessoas 60+ no centro da diversão. A campanha mostrou 60+ curtindo o verão com energia e humor, subvertendo o imaginário tradicional das campanhas de cerveja e aproximando a marca da diversidade etária.
Burger King
Com o combo “King Senior”, a rede criou o primeiro produto voltado aos 60+, oferecendo dois combos pelo preço de um — um para a pessoa 60+ e outro para quem o acompanha. O filme da campanha, em parceria com o Projeto Velho Amigo, celebrou a convivência e incentivou esse público a viver novas experiências.




