HACKS | ESG: Decodificando o mês mais diverso, inclusivo e sustentável do ano

27 de junho de 2024 9 minutos
ESG junho verde

O que temos feito pelo meio ambiente? Que outras mudanças podemos incorporar em nosso dia a dia para sermos exemplo e ajudarmos a propagar mais conscientização? Esses questionamentos se intensificam durante o mês de junho, principalmente porque pautas de sustentabilidade ganham destaque na mídia devido à campanha “junho verde”: uma iniciativa governamental que estimula empresas e indivíduos a refletirem sobre suas práticas e impactos no planeta. Nesse contexto, o conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) torna-se ainda mais relevante. 

Criada em 2000, a sigla ESG se refere a um conjunto de critérios ambientais, sociais e de governança que avaliam as práticas e o impacto ético das empresas, além dos indicadores financeiros tradicionais. A adoção dessas diretrizes torna-se cada vez mais essencial, pois promove uma cultura organizacional que valoriza a sustentabilidade, a inclusão e a ética, elementos essenciais para a longevidade e a resiliência das organizações.

A seguir, compartilhamos alguns insights dos temas ESG mais discutidos na atualidade para nos aprofundarmos em como suas práticas podem transformar positivamente as organizações e a sociedade.

TENDÊNCIA DE NEARSHORING 

Uma das tendências mais discutidas atualmente no mundo dos negócios é o nearshoring uma prática na qual uma empresa contrata serviços ou estabelece parcerias em países geograficamente próximos, reduzindo a distância entre produção e mercado consumidor. 

O evento Summit ESG 2024, realizado pela EXAME neste mês, destacou as oportunidades do Brasil nessa área, especialmente para os setores de bioeconomia e energia renovável. Especialistas e líderes de empresas como Dengo Chocolates e ÓGUI discutiram como a proximidade da cadeia de fornecedores pode reduzir custos, emissões de CO2 e riscos, além de fomentar o desenvolvimento local e melhorar a segurança dos contratos comerciais. 

Com vastas reservas de commodities e energia renovável, o Brasil tem vantagens significativas para se tornar um polo global sustentável. Velma Gregório, CEO e fundadora da ÓGUI, enfatizou que o nearshoring oferece a chance de se integrar às cadeias globais na América Latina e Caribe, enquanto Ricardo Assumpção, sócio da EY e líder de ESG para a América Latina, destacou que o País tem localização geográfica estratégica com potencial ainda não descoberto. Essa tendência não só impulsiona a economia local, mas também fortalece a resiliência e a sustentabilidade das operações empresariais.

O QUE É GREENWASHING?

ESG GreenwashingVocê já deve ter ouvido falar em “greenwashing”: uma prática que se baseia em alegações enganosas ou exageradas sobre as iniciativas ambientais adotadas por empresas para parecerem mais sustentáveis do que realmente são. 

Recentemente, a ONG global Creatives for Climate lançou, em Amsterdã, uma nova versão do guia “The Anti-Greenwash Guide for Agency Leaders” com o objetivo de ajudar agências de publicidade e comunicação a enfrentarem as mudanças regulatórias contra o greenwashing. Contendo 30 páginas, o manual sugere diretrizes e conselhos práticos para a criação de campanhas publicitárias mais transparentes e fiéis aos processos de sustentabilidade empregados nas organizações. Além de princípios para evitar alegações enganosas, o material lançado inclui um checklist do que não fazer e traz estudos de caso de marcas como Primark, Unilever, Oatly e HSBC detalhando os últimos frameworks regulatórios, como o “Green Claims Code” no Reino Unido e os “Green Guides” da FTC nos Estados Unidos. 

Lucy von Sturmer, CEO da Creatives for Climate, enfatizou que eliminar o greenwashing é crucial não só para a transparência, mas também para proteger as próprias agências de comunicação.

VOLTANDO A FALAR SOBRE ECONOMIA CIRCULAR

O impacto social da economia circular e os principais desafios dessa agenda foi outro tema importante da programação do Summit ESG 2024

O Brasil tem um grande potencial de reciclagem, mas aproveita pouco dos resíduos produzidos. Durante o evento, especialistas discutiram a importância da educação e da remuneração justa para os catadores como forma de estimular a economia circular. Desafios como a implementação da logística reversa e a adesão a embalagens reutilizáveis foram mencionados durante o evento. Atualmente, apenas 4% dos resíduos são reciclados, enquanto um terço poderia ser reutilizado. 

A economia circular no Brasil também não valoriza adequadamente os catadores, que reivindicam serem tratados como prestadores de serviço para aumentar o volume reciclado. Segundo a Ancat, 90% do material reciclado passa pelas mãos dos catadores, que recebem baixa remuneração. O Brasil tem 66 mil catadores registrados, predominantemente pretos, pardos e mulheres. A valorização da categoria poderia impulsionar significativamente a reciclagem no país.

ETARISMO NOS ESCRITÓRIOS

O etarismo no mundo corporativo, tema que vem ganhando mais visibilidade nas discussões em redes sociais nos últimos anos, também foi debatido no ESG Summit 2024. A convivência entre diferentes gerações, os níveis de experiência e conhecimento e os prós e contras que levam à escolha para contratação são aspectos que afetam, diretamente, o ambiente de trabalho e os resultados dos negócios. Apesar do envelhecimento populacional no Brasil, Mórris Litvak, da Maturi, e Candice Pomi, psicóloga, destacaram a necessidade de combater o etarismo e valorizar a experiência desses profissionais que estão no auge profissional e intelectual. 

Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que, em 2040, 57% da força de trabalho no Brasil terá mais de 45 anos. De acordo com Litvak, as corporações tendem a evitar profissionais mais maduros, porém, são eles que trazem diversidade, melhoram o clima e agregam criatividade para os negócios. A diversidade geracional, embora benéfica, ainda não é plenamente integrada nas políticas de inclusão das empresas, que focam mais em cotas raciais e de gênero.

MÊS DO ORGULHO X DIVERSIDADE E INCLUSÃO ESG

ESG DIVERSIDADEOutro marco do mês de junho é a celebração do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, uma data relevante no calendário global que ressalta a importância da inclusão e da diversidade – aspectos fundamentais do pilar social de ESG.

Companhias que trabalham esses princípios e valores em sua governança não apenas cumprem um papel ético e social, mas também fortalecem seu ambiente de trabalho e atraem talentos diversos com experiências agregadoras e enriquecedoras.

O mês também concentra diversas iniciativas, campanhas e ações publicitárias de marcas que desejam mostrar apoio às diversas formas de amor e identidade. No entanto, uma reportagem da publicação Ad Age, especializada na cobertura do mercado publicitário nos Estados Unidos, constatou que, anunciantes que sempre levantaram a bandeira em defesa da comunidade LGBT+ estavam mais tímidos nas ações neste ano de 2024

Ricardo Sales, fundador e CEO da consultoria Mais Diversidade, explica que a extrema direita norte-americana escolheu a agenda ESG como um de seus principais alvos e que, devido à articulação internacional desse grupo, o impacto se espalha por todo o mundo, inclusive no Brasil por ser um dos países mais diversos do mundo. Em sua visão, o País tem grande potencial de liderar o planeta na construção de uma economia mais sustentável e inclusiva. 

Apesar das pressões de polarização e medo de cancelamento, há a necessidade de um compromisso genuíno e duradouro das marcas com a diversidade. A cautela observada nas ações publicitárias durante o Mês do Orgulho reflete um cenário de tensão, mas também destaca a oportunidade para que empresas se posicionem de forma autêntica, valorizando a convivência saudável e respeitosa para atender às expectativas de uma geração que valoriza intensamente essas causas.

O PAPEL DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA TRANSFORMAÇÃO ESG

esg inteligência artificialOutra temática debatida neste mês de junho, foi sobre o papel da IA no ESG. Nos últimos anos, a incorporação de tecnologias emergentes tem transformado a abordagem das empresas em relação às suas práticas ambientais, sociais e de governança. Dentre essas tecnologias, a Inteligência Artificial (IA) se destaca como uma ferramenta poderosa para promover a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa. Com grande capacidade de processar grandes volumes de dados em tempo real, a IA permite que empresas monitorem e gerenciem seu impacto ambiental com precisão sem precedente, já que há sistemas capazes de analisar dados climáticos, prever padrões de consumo de energia e identificar oportunidades para a redução de emissões de carbono. Além disso, ainda é possível otimizar processos industriais para minimizar desperdícios e maximizar a eficiência de recursos.

No âmbito social, a IA está transformando a forma como as empresas interagem com suas comunidades e colaboradores. Ferramentas de análise de sentimentos e big data ajudam as organizações a entenderem melhor as necessidades e preocupações de suas partes interessadas, promovendo uma comunicação mais transparente e eficaz.

CONCLUINDO

O mês de junho tem sido marcado por reflexões profundas sobre sustentabilidade, inclusão e governança, portanto, fica evidente que o conceito de ESG não é apenas uma tendência, mas sim um caminho necessário para o futuro das organizações e da sociedade como um todo. Por meio da adoção de práticas ambientais responsáveis, da promoção da diversidade e inclusão, e da melhoria contínua dos processos de governança, empresas não apenas fortalecem suas operações, mas também contribuem positivamente para o ambiente e para as comunidades onde estão inseridas. No entanto, o verdadeiro impacto do ESG não está apenas em grandes políticas corporativas ou regulamentações, mas também nas pequenas ações cotidianas que cada um de nós pode tomar para construir um mundo mais sustentável e justo.

 

O que está procurando?

1
Olá 👋 Como podemos ajudar?